A sociedade de informação tornou-se uma espécie de ideologia tecnológica, pois parecia ser a solução para todos os problemas. Era vista como uma inevitabilidade e foi neste contexto que se desenvolveu a década de 80, que trouxe grandes progressos às zonas mais ricas da terra mas trouxe também mais pobreza e crise às zonas mais desfavorecidas. O consumismo torna-se uma doutrina e assume um grande poder em todo o mundo com a urbanização maciça que se verificou ao longo dos séculos XIX e XX, surgiu um novo conceito, o de cidadania digital mediatizada, que é suportada, influenciada e centrada nos meios de comunicação. Esta evolução dos media tem vindo a afectar a sociedade e as suas instituições. Segundo Mcluhan, a escola tornou-se uma sala de aula sem paredes, pois os alunos já podem obter saberes e conhecimentos através dos media. Se, por um lado, a escola não consegue controlar este fenómeno, por outro cabe por se aproveitar dele, pois tem-se vindo a transformar, graças aos novos meios de comunicação. O desenvolvimento da sociedade digital veio trazer muitas alterações ao quotidiano das pessoas, por exemplo, alterou os ritmos de vida (acelerando-os), as notícias correm à velocidade da luz, o marketing actua sobre os cidadãos tornando-os quase reféns de certos produtos, estamos rapidamente em contacto com qualquer pessoa e em qualquer parte do mundo e trouxe também algo que é muito perigoso, que é a noção que temos do tempo. Por exemplo, muitas pessoas passam horas e horas seguidas na Internet e quase nem dão por isso, prejudicando até a sua vida familiar. Esta mediatização do indivíduo pelos media criou um novo tipo de cidadão, que tem novos padrões de exigência, como por exemplo, estar permanentemente em contacto com as novas tecnologias, consumistas, pouco activos democraticamente, o que os torna mais susceptíveis à manipulação, etc. Já as instituições digitais são globais, dependentes do sistema e das políticas económicas e pouco emotivas, ou seja, desdenham o contacto humano. São estes os indivíduos e instituições que predominam na sociedade digital, onde o consumismo, a racionalização dos recursos e do tempo e a mudança constante imperam. Este pode bem vir a ser o nosso futuro digital e para o evitarmos temos de criar alternativas, por exemplo, face ao consumismo devemos adquirir apenas os bens de que realmente necessitamos, relativamente à globalização, devemos aproveita-la para promover as diversidades, relativamente ao economicismo devemos compensa-lo com um novo sentido de humanismo e da transcendência da pessoa humana. Só assim se poderá impedir a concretização de uma sociedade digital onde imperam valores que não valorizam o ser-humano. A Educação para os Media poderá ser a solução para os males da sociedade digital. “Cabe à Educação para os Media resgatar os valores que ajudam a configurar a rede audiovisual – feita de Internet e televisão digital – que está a globalizar o planeta”. Apesar dos riscos que traz, esta rede pode representar a união, diálogo e intercâmbio de pontos de vista. É sobre estes valores que deve incidir a Educação para os Media.
TORNERO, José Manuel Pérez (2007). O futuro da sociedade digital e os novos valores da Educação para os
Media. In TORNERO,José Manuel Pérez (coord.)
Comunicação e Educação na Sociedade da Informação: novas linguagens e consciência crítica. Porto: Porto Editora, pp.187-210.